quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Nitidez das reticências

                                   

                                     
                              (A elas, presentes em teu corpo e em meus pensamentos).


As formigas desenhadas na tua nuca unem-se
E me impedem de dormir
Elas, astutas, querem ser beijadas uma a uma.
E eu, que até agora havia preferido e me acostumado ao gosto azedo e agudo em minha boca
Fico agora às voltas, desejando, pensando, arquitetando momentos,
Sorrindo um sorriso que nem controlo mais.
As palavras doces, antes vazias e embaladas em clichês,
Entram em meus ouvidos plenamente amplas,
Enjoosamente doces e redondas.
E deram agora para sair da minha boca ressignificadas.
Já sinto doce a minha boca até mesmo antes de encontrar a tua
Enfileiradas, as formigas em teu corpo te transformam todo em objeto de minha reflexão.
Elas te usam como porta-voz. E você?
Você sem se dar conta disso, se deixa falar também através delas.
Essas criaturas pelas quais me interessei tanto quanto por você
Aparecem como as reticências do teu corpo
Na verdade, o mais prazeroso é descobrir a nitidez existentes nelas.
Traduzir a verdade que as permeia e também envolve tudo o que não é dito.
A alternância de nomes pelos quais te chamo me amplia a liberdade e o paladar.
Mesmo a sede que antes se esvaía ao sorver um copo d’água
Agora só encontra alívio em você
E de repente percebi o inevitável:
Que vários pontos do meu corpo se transformariam em vivos açúcares
Para o desfrute das criaturas famintas desenhadas pelo teu.